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Marcus D’Elia, sócio da Leggio Consultoria, destaca que, atualmente, 12% do petróleo exportado pelo Brasil são vendidos para os Estados Unidos. “As tarifas não devem impactar a produção brasileira de petróleo, pois a fatia exportada para o mercado americano é pequena em relação ao total produzido”, disse D’Elia.

Entidades como o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) defendem cautela e abertura de diálogo entre as lideranças dos dois países em busca de um desfecho diplomático para a questão. “A medida traz incertezas para o setor de petróleo e gás, que responde hoje por 17% do PIB industrial brasileiro e 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos no país”, diz o IBP em nota.

A Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (Abpip) ressalta que a exportação de petróleo por essas empresas para os Estados Unidos representa uma pequena parcela do comércio das petroleiras independentes no Brasil.

“Caso as tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump sejam de fato implementadas, outros mercados -especialmente o asiático e o europeu - têm potencial para absorver essa produção”, disse a Abpip, em nota.

Gabriel Freire, presidente do conselho de administração da Azevedo & Travassos Energia, avalia que em caso de retaliação do Brasil às tarifas americanas, o problema será maior. O governo brasileiro tem sido cauteloso procurando chamar os Estados Unidos para a mesa de negociação. Conta, inclusive, com a ajuda do setor privado brasileiro e dos clientes nos Estados Unidos.

Em eventual aplicação da lei de reciprocidade, porém, as petroleiras poderão ter dificuldades de importar equipamentos e insumos de empresas americanas supridoras da cadeia de óleo e gás. “Talvez será preciso buscar outros fornecedores.”

Luiz Carvalho, analista do BTG Pactual, avalia que o impacto das tarifas sobre a exportação das petroleiras independentes é nulo. No caso da Prio, a empresa poderia minimizar eventuais efeitos do tarifaço. “[As empresas] Facilmente conseguem desviar a produção exportada para outros mercados”, disse Carvalho. Na mesma linha segue o Citi, ressaltando que os Estados Unidos são um grande produtor de petróleo, sem depender tanto do comércio internacional.

Prio, Petroreconcavo e Brava Energia não comentaram o tema por estarem em período de silêncio por conta da divulgação de balanços do segundo trimestre.

Os preços do petróleo balizam o mercado: quanto mais elevadas as cotações, mais favorável é para as petroleiras, tanto “majors”, como são conhecidas as grandes empresas, quanto as “junior oils”. No primeiro anúncio de elevação de tarifas por Trump, em abril, os preços do petróleo chegaram a subir, em reação à medida, mas recuaram e se mantiveram na casa dos US$ 60 por barril. Com a decisão de taxar o Brasil em 50%, as atenções se voltaram para uma eventual combinação entre uma possível perda de competitividade do petróleo brasileiro no mercado americano e uma cotação que segue aquém do esperado pelo segmento. Os preços do Brent têm se mantido no patamar de US$ 65. D’Elia afirmou que a expectativa é que preço do petróleo continue na faixa entre US$ 65 e US$ 75 por barril.

Fábio Couto – Valor Econômico

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